A bailarina, coreógrafa e ativista de 33 anos que alcançou notoriedade nas redes ao defender a aceitação de corpos gordos viu sua reputação colocada à prova após anunciar que havia passado por cirurgia bariátrica em 28 de abril. O procedimento, confirmado pelo marido Israel Reis, empresário, foi divulgado rapidamente e desencadeou uma avalanche de reações entre os mais de 3,5 milhões de seguidores que a acompanhavam desde os primeiros vídeos contra o preconceito contra a obesidade.
A controvérsia surgida após a cirurgia
Thais Carla nasceu em Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, e se consolidou como uma voz ativa contra o fat‑shaming. Ela chegou a processar agências que usaram sua imagem sem autorização e promoveu campanhas que exaltavam a diversidade de corpos, encorajando milhares a se amarem como são. Quando a notícia da cirurgia foi revelada, a reação foi imediata e, em sua maioria, acusatória.
- "Ela defendia a obesidade a qualquer custo, agora fez bariátrica, ha!" – Joyce
- "Vai fazer bariátrica? Não entendo." – Michelle
- "Hipocrisia. Agora vai lucrar ainda mais com quem a apoiou." – Daniel
- "Mas ela dizia que era feliz com o corpo e agora se submete a cirurgia?" – Edvania
Os críticos alegavam que a própria ação de Thais contradizia a mensagem de aceitação incondicional que havia transmitido. Comentários que misturavam decepção, confusão e até ameaças de fraude financeira mostraram o grau de engajamento emocional que a influencer tinha gerado.
Por outro lado, alguns seguidores ofereceram apoio, lembrando que a decisão foi motivada por questões de saúde e pelo desejo de estar presente na vida dos dois filhos pequenos. "Nunca é tarde para cuidar de si mesmo", escreveu Jeff, enquanto Karen desejou boa recuperação.

O debate sobre saúde e body positivity
O caso de Thais Carla traz à tona uma discussão mais profunda que vai além de opiniões pessoais. A comunidade body positivity, ainda em formação, tem enfrentado críticas de especialistas que apontam para a necessidade de equilibrar a celebração de todos os corpos com mensagens de promoção da saúde. Muitos ativistas argumentam que aceitar o próprio corpo não significa encorajar estilos de vida potencialmente nocivos, mas sim oferecer suporte emocional que pode, inclusive, facilitar escolhas saudáveis.
Do ponto de vista médico, a cirurgia bariátrica – sobretudo o bypass gástrico – é recomendada quando o índice de massa corporal (IMC) está acima de 40, ou acima de 35 com comorbidades como hipertensão ou diabetes. Thais justificou que a decisão foi tomada para garantir maior longevidade e capacidade de cuidar dos filhos, destacando que a pressão social e o medo de complicações futuras pesaram na escolha.
Especialistas em comunicação digital apontam que figuras públicas, ao se posicionarem como representantes de movimentos sociais, acabam sendo colocadas sob lupa quando alguma ação pessoal foge ao discurso oficial. O "efeito celebridade" pode transformar uma escolha de saúde em um suposto ato de traição, como ocorreu no caso.
Além das reações nas redes, o episódio reacendeu a discussão sobre como o movimento deveria lidar com membros que decidem fazer intervenções médicas. Alguns argumentam que a verdadeira essência do body positivity reside no direito de cada indivíduo decidir o que é melhor para seu corpo, sem julgamento. Outros defendem que a coerência entre discurso e prática é fundamental para manter a credibilidade do movimento.
Para entender melhor o panorama, é útil observar casos semelhantes. Influenciadores como Jessamyn Stanley e Megan Jayne Crabbe, que também defendem a aceitação corporal, já abordaram publicamente suas jornadas de saúde, incluindo dietas e exercícios, sem que isso fosse rotulado como traição. A diferença, segundo críticos, seria que essas figuras não recorreram a intervenções cirúrgicas, que são vistas como mais radicais.
Enquanto Thais Carla segue em recuperação, o debate nas plataformas digitais continua aceso. Comentários continuam a surgir, alternando entre apoio, crítica e reflexões sobre a própria compreensão de "aceitar o corpo". O caso ilustra como a linha entre ativismo e escolhas individuais pode ser tênue, especialmente quando a figura pública se coloca como símbolo de um movimento.
O que fica claro é que o diálogo sobre saúde, estética e aceitação corporal ainda precisa amadurecer. A experiência de Thais pode servir de ponto de partida para discussões mais nuançadas, onde a autonomia pessoal se encontre com a responsabilidade coletiva de promover ambientes inclusivos e saudáveis.