Rio de Janeiro trava após morte de chefe do tráfico na Maré
O Rio de Janeiro amanheceu totalmente diferente nesta quarta-feira, depois de uma megaoperação policial no Complexo da Maré acabar com a morte de Thiago da Silva Folly, conhecido como TH. O criminoso era apontado como principal liderança do Terceiro Comando Puro (TCP), organização que domina partes da Zona Norte. A ação violenta não só deixou um rastro de medo, como também parou a cidade de um jeito pouco visto.
A Linha Amarela, ligação vital entre as zonas Oeste e Norte, virou cenário de pânico: foi fechada várias vezes ao longo do dia. Na tentativa de fugir, criminosos sequestraram dois ônibus e ergueram barricadas, acendendo ainda mais o caos. Quem tentava circular pela cidade enfrentou megacongestionamentos na Avenida Brasil e Linha Vermelha, duas das principais saídas do Rio.
Os reflexos foram muito além do trânsito. Ao todo, 43 escolas municipais e duas estaduais suspenderam as aulas, deixando milhares de famílias sem saber como agir. A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) liberou alunos de avaliações e orientou a comunidade a ficar longe do campus do Fundão, praticamente isolado pelos confrontos. Nem hospitais escaparam: diversos postos de saúde e clínicas na região fecharam temporariamente as portas ou suspenderam o atendimento presencial. A Fiocruz, um dos maiores centros de pesquisa, ativou imediatamente regimes de trabalho remoto e seus planos de contingência para proteger funcionários e pacientes.
TH: o criminoso que desafiou a polícia e sacudiu o futebol
TH não era só nome temido no mundo do tráfico. Contra ele, a polícia mantinha incríveis 17 mandados de prisão, além de 227 anotações criminais. Entre as acusações, estão o assassinato de dois agentes do Bope em 2024, sequestro de ambulância, ataques armados a equipes federais e até tentativas de atentado contra estrelas do futebol. Na semana passada, integrantes do seu grupo tentaram atacar jogadores do Flamengo: o carro blindado do goleiro Agustín Rossi, um dos maiores nomes do time, foi atingido por quatro tiros ao sair de um treino. Ninguém se feriu, mas o susto escancarou a ousadia e o poder de fogo do grupo ligado a TH.
A pressão policial cresceu desde então, culminando na grande operação de hoje. No meio desse turbilhão, relatos de tiros também surgiram na Avenida Brasil; dois baleados foram socorridos, mas segundo a polícia, esses casos não tiveram ligação direta com os confrontos da Maré.
Para muita gente, a cidade virou um grande jogo de sobrevivência urbana. Foram 70 linhas de ônibus desviadas, passageiros forçados a mudar de planos sem aviso prévio e famílias trancadas em casa. Quem vive ou trabalha nas proximidades se acostumou a situações extremas, mas poucas vezes sentiu tantas consequências imediatas. O poder público ainda avalia quando será possível retomar a rotina, mas por enquanto, o que se viu foi um retrato cru dos dias de guerra que o Rio ainda enfrenta fora dos cartões-postais.